quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

EU PEDI ALFAÇE E MEDERAM CAPIM


Texto de Milton Cruz, gostei e postei.Eu pedi alface e me deram capim! Falta preto no big-brother. Passando o olho nas fotos dos selecionados, e não vendo negões e negonas divinos e maravilhosos, não vejo minha gente, minha mistura, meu grupo, meu país. É muito engraçado a tv não ver o Brasil real, cheio de afro-descendentes. Eles devem pensar que preto não dá ibope, que ninguém quer ver uma casa onde a miscigenação esteja presente. Só pode ser esta a explicação. Outro dia li que a jovem e linda atriz negra pedia mais papéis não estigmatizados para os atores negros. Aí pensei: "ai, que chorumela. Não existe mais só papel de bandido e cozinheira favelada para os atores afro-desecendentes. Como por exemplo..... como por exemplo...." só consegui pensar em três exemplos, num universo de centenas de papéis oferecidos. Não chegava nem a um por cento. Então precisa ter cota, mesmo. É preciso dizer para as tvs que somos um país mulato, sim. Acho esquisitíssimo só ter pela clara, no máximo parda, no show de realidade. Quando disse para mim mesmo que Taís Araújo fora escolhida como apresentadora do Superbonita, tentando me convencer de que isto era o máximo, logo descartei este atenuante, porque a mulata é a tal e é a tal desde sempre na cultura brasileira, no campo relacionado com a beleza física. Mas ninguém a associa ao pensamento intelectual. Insisto que falta uma visão de mulher preta intelectual no Saia-justa, por exemplo. É preciso ouvir a voz da negritude neste programas sobre o cotidiano, as grandezas e mazelas às quais nossas mulheres são submetidas. Já pensaram quão enriquecedor isto seria? Acho que não ouvimos a voz desta grande parcela da população. Nós não os selecionamos para a casa do Brasil. Eles não são palco, serão platéia. Eles não são retratados na ficção, serão apenas consumidores dos produtos oferecidos. Eles só sabem sambar e correr na maratona. Não nasceram com o dom de estudar. É isto que está embutido nesta ausência de peles pretas na nossa telinha. Um mundo irreal, perverso, que alcança seu ápice na jaula de vidro montada no shopping, onde a família pode passear e comer algo na praça de alimentação, observando os vinte babacas presos na gaiola. Vai me dizer que não é o mesmo circo dos horrores que tanto sucesso fazia expondo mulher-barbada, deformados e esquisitices humanas de outrora? É sim, só que agora disfarçado de concurso. Me admiro dos pais que reforçam em seus filhos tal admiração de ver humanos enclausurados.

2 comentários:

Anônimo disse...

Este Milton Cruz, é um The Best. é impressionante como ele tem coragem de tocar em assuntos que dificilmente alguem fala. Tá certo ele, a discriminação está explicita, não só no Big Brother mas em todos os seguimentos da sociedade. A GLOBO passa do limite a tempo.

Anônimo disse...

Coisa mais linda este Milton Cunha, escreve como ninguem, é ainda assume tua posiçaõ de Gay. Atitude é isto, o resto é...........